A antiga tradição religiosa judaica de circuncidar os recém-nascidos sempre
gerou polêmica entre os médicos. Mas uma nova orientação da Academia Americana
de Pediatria voltou a defender o procedimento, mostrando que seus benefícios
ultrapassam os riscos.
“Do ponto de vista médico, os benefícios da circuncisão na redução de riscos
de doenças ultrapassam os pequenos riscos envolvidos no procedimento”, afirmou o
pediatra Andrew Freedman, coautor do material publicado na revista “Pediatrics”
que divulgou essa nova orientação.
Entre as vantagens apontadas incluem-se a prevenção de infecções urinárias,
de doenças sexualmente transmissíveis (como o HPV e o HIV), além do câncer de
pênis.
No Brasil, não há estimativas oficiais, mas 56% dos recém-nascidos nos EUA
são circuncidados, quase 1 milhão a cada ano. Obviamente, isso é mais comum em
áreas onde há uma forte tradição cultural ou religiosa, especialmente nas
comunidades de judeus e muçulmanos.
A decisão da Academia Americana de
Pediatria ocorreu após estudos feitos ao longo dos últimos sete anos, que
atestarem os benefícios do procedimento. Um deles indicou a redução de 90% no
risco de infecções urinárias no primeiro ano de vida dos meninos circuncidados.
Nos últimos anos, tem havido um declínio na cobertura das circuncisões por parte
das seguradoras de saúde em 18 Estados norte-americanos. Na Europa,
há
tentativas de impedir o procedimento por conta de questões religiosas.
“É impossível continuar neutro após evidências tão robustas”, enfatiza o
pediatra Paulo Cesar Nogueira. Ele é membro do departamento de nefrologia da
Sociedade Brasileira de Pediatria.
Contudo, não defende uma recomendação
expressa para que todos os meninos sejam circuncidados. “Continuará sendo uma
decisão exclusiva dos pais.”
Mesmo assim, os médicos afirmam que as evidências científicas sobre os
benefícios da circuncisão seriam questionáveis e que tal procedimento exporia as
crianças a riscos desnecessários.
Segundo Antonio Macedo Júnior, chefe do grupo de uropediatria da Unifesp,
apenas as crianças com indicações clínicas deveriam se submeter ao procedimento,
como as que têm malformações congênitas do trato urinário. Ele insiste que a
circuncisão seria justificada apenas nas regiões onde há alta incidência de HIV
ou freqüência nos casos de câncer de pênis, em geral associado à falta de
higiene.